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quarta-feira, 12 de junho de 2013

FAROESTE CABOCLO

Faroeste Caboclo-BRASIL
Ano: 2013 - Dirigido por: René Sampaio

Sinopse: João (Fabrício Boliveira) deixa Santo Cristo em busca de uma vida melhor em Brasília. Ele quer deixar o passado repleto de tragédias para trás. Lá, conta com o apoio do primo e traficante Pablo (César Troncoso), com quem passa a trabalhar. Já conhecido como João de Santo Cristo, o jovem se envolve com o tráfico de drogas, ao mesmo tempo em que mantém um emprego como carpinteiro. Em meio a tudo isso, conhece a bela e inquieta Maria Lúcia (Ísis Valverde), filha de um senador (Marcos Paulo), por quem se apaixona loucamente. Os dois começam uma relação marcada pela paixão e pelo romance, mas logo se verá em meio a uma guerra com o playboy e traficante Jeremias (Felipe Abib), que coloca tudo a perder.


Ouso em dizer que Renato Russo é o Beatles do Brasil! Espera! Calma! Calma! Só deixando claro que não estou falando de qualidade nem comparando Renato com a banda inglesa. Falo isso em relação à popularidade. Renato e sua Legião Urbana sobrevivem até hoje tendo suas músicas frequentemente ouvidas tanto por jovens e adultos e regravadas por inúmeros artistas. Sem falar dos diversos CDs lançados ao longo desses anos, e agora, tendo até adaptação para o cinema, tanto de sua adolescência com “Somos Jovens” quanto da música que inspira este filme. Portanto, no quesito popularidade Renato Russo é meio que um Beatles no Brasil. 

Faroeste Caboclo é uma das canções mais conhecidas de Renato onde ele relata em nove minutos a trajetória de João de Santo Cristo, um rapaz negro e pobre que deixa Salvador rumo a Brasilia buscando uma vida melhor, e no desenrolar de sua história é perseguido por traficantes, preso, conhece uma moça chamada Maria Lúcia e dentre outras coisas. 


Como então pegar uma música de nove minutos e transformar em um filme de uma hora e quarenta mais ou menos? Pois bem, não é uma tarefa fácil. É necessário imaginar toda uma situação em torno do que é falado na música e criar uma trama que envolva os elementos apresentados nela. Escrito por Victor Atherino e Marcos Bernstein (que escreveu também “Somos Jovens”), “Faroeste Caboclo” é um filme que pega o nome dos personagens, pega a base da música, relata os fatos, porém, a sua maneira e com a cronologia criada pelos próprios roteiristas. 

Ouvindo a música do Renato percebemos certo humor e irreverência na vida de João de Santo Cristo, como por exemplo, ele roubando dinheiro que as velhinhas colocavam na caixinha do altar, ou pegar todas as menininhas da cidade e dentre outros feitos, detalhes estes que faltam aqui. Dirigido por René Sampaio, o filme é dramático demais, sério demais e não consegue construir uma imagem marcante do personagem João de Santo Cristo. O que poderia ser tornar um personagem marcante do nosso cinema, um ser destemido, bom de tiro (como mostra no filme) e malandrão, torna-se aqui aquele típico personagem que é negro, traficante e visto com maus olhos por todos. Nada de singular ou memorável. Faltou, portanto, o humor ácido, a irreverência na narrativa e mais ritmo, já que o filme é bem arrastado e nada empolgante. 


Para entender melhor aonde estou querendo chegar vou pegar como exemplo o filme “Django Livre” de Quentin Tarantino. Lembrando que não estou comparando os dois filmes, nada disso! O que quero dizer é que em “Django Livre” Tarantino conseguiu criar um personagem memorável por focar na construção do mesmo, misturando humor negro e ação. Ao longo de todo o filme vivenciamos com Django o seu sofrimento, mas também seus talentos e o heroísmo, com cenas de tirar o fôlego e bem criativas. O que faltou em “Faroeste Caboclo” é justamente essa construção de João de Santo Cristo e cenas que mostrassem o quão sensacional, ou inesquecível, ele pode ser. Não temos um momento que fique na memória e nos faça sair do cinema com um sorriso no rosto lembrando dele. 

A história passa tão rápido por cima dos acontecimentos ditos na música, que a sensação que temos é de pressa e preguiça por parte dos roteiristas e do diretor. A química entre João e Maria Lúcia pouco convence, e muito menos a história dos dois juntos. Desde o encontro, até o envolvimento real e o desfecho, a sensação que temos é, repito, de pressa e preguiça em criar algo mais orgânico e natural. 


E piorando ainda mais esse clima dramático da fita, temos uma fotografia escura e densa que só colabora para o tom pouco envolvente de uma história que tinha tudo para ser um entretenimento de primeira, mas que acaba sendo um romance dramático bobo e novelesco. Aliás, René Sampaio foca tanto no romance, que deixa os feitos de João de lado. 

Finalizando, não vejo muito do espirito da música de Renato Russo neste filme. Tudo não passa de puro marketing em cima e homenagens nítidas de René Sampaio a Sergio Leone nos momentos de ação. Mas diferente dos filmes de Leone, e também de Tarantino, “Faroeste Caboclo” não possui a energia, a empolgação e o clima movimentado, e violento, desses grandes diretores. Particularmente, a adaptação da música inesquecível de Renato Russo ainda não foi feita. Infelizmente.

Nota: «««««

Comentário por Matheus C. Vilela

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